sábado, 26 de abril de 2014

Para meu irmão


"Mas as coisas findas 
muito mais que lindas,
essas ficarão"


Meu agridoce Abril, tu sempre pegando peças em meu coração. 

Ontem, estávamos "quase" todos juntos em dois carros (meus pais, irmãos, cunhado e sobrinhas) indo fazer um passeio em Tiradentes. Saindo do trevo de Prados, um ônibus surgui em nossa frente e todos devem ter tido a sensação semelhante a que eu tive: primeiro, um aperto no peito; segundo, um sorriso nos lábios; terceiro: os olhos brilhantes por algumas lágrimas que a gente tenta disfarçar. Então, minha mãe foi a primeira a dizer que todo ano, ela e meu pai sempre estão em um lugar diferente nesta data e nunca é algo planejado e que isto deveria ser coisa d'Ele. Eu sorri e tentei disfarçar o tom (quando a gente sente um bolo na garganta e se sente pequenininho). 

Lembrei-me daqueles olhos azuis claros, daquele cabelo preto macio, daquele sorriso brilhante, daquelas mãos bonitas e de nossas conversas. Pensei ainda que, sendo ontem, ele me pediria para fazer pizza pra ele hoje. Sempre fazíamos em seu aniversário (porque ele sempre me pedia a mesma coisa  e eu gostava de testar meus "dotes" culinários). Pensei num abraço apertado que ganhei num dia, na porta de nossa casa, quando eu estava chorando (e olha que isso eu não costumo fazer na frente de ninguém) e ele falou "esquenta com isso não, Lalá". Vi os seus desenhos. Vi Branca e Minotauro. Vi seu Skate. E quase cheguei a sentir o seu perfume. 

Neste ano, ainda você é mais velho do que eu. Acho que nunca vou querer ultrapassar a sua idade... Ainda você é (e sempre será) muito melhor do que eu. E como não poderia deixar de ser te envio o meu melhor abraço, o meu melhor sentimento e o meu melhor carinho. E se eu te dizer "Deus te proteja", sei que Ele o está e que você se encontra muito mais perto d'Ele do que eu. 

Ontem o nosso carro estava completo. Creio que esses pequenos acasos do coração são alguns "descuidos cuidados" que a Vida nos proporciona para nunca perdermos a fé. E pode durar o tempo que for, acredito que ainda nos daremos outros abraços apertados outra vez, meu doce irmão. 

E como eu sempre disse  e guardei comigo "as pessoas não morrem, ficam encantadas". E você para mim está assim, além de jovem e belo. Te amo, Ju.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Falando sobre cegonhas

O primeiro caso de onde vem os bebes



"Já sonhei nossa roda gigante esconde-esconde em você
Já avisei todo ser da noite que eu vou cuidar de você
Vou contar histórias dos dias depois de amanhã
Vou guardar tuas cores, tua primeira blusa de lã"


Dia desses, dando banho em Clarinha (minha sobrinha de três anos de idade), em um determinado ponto de nossas infinitas conversas ela me disse que uma amiga da mamãe tinha um bebe na barriga. Eis o desenrolar dos fatos: 

- Tia Lalá, você também tem um bebe na barriga?

- Não, Clarinha, a dindinha não tem um bebe na barriga. 

Ela parou e ficou me olhando, como se faltasse mais detalhes em minhas palavras, curiosa, enquanto o vapor d'água embaçava o box de vidro e fazíamos desenhos nele. 

- Mas por que você não tem um bebe na barriga, dindinha?

E me encarou, desejando sua resposta imediata. Sorri. 

- A dinda não tem um bebezinho na barriga pois eu ainda não casei, como a sua mamãe e o seu papai que tem você e Helena. 

Pensei que ao dizer isso, dessa forma, ela entenderia ao menos um pouquinho, sem ter que entrar em méritos e detalhes maiores. Se fosse com uma sobrinha já adolescente o papo teria sido outro, a dinda teria explicado várias coisas e dado alguns exemplos. Nesse ínterim veio outro porquê. 

- Mas por que você não casou ainda, dindinha Lalá e não tem um bebe na barriga?

Quando ela me chama desse modo eu me derreto (e pior seria se ela tivesse dito Dindinha Lalazinha, porque geralmente minha querida bailarina me chama assim quando quer muito me adular). E eu teria esquecido de seus três anos de idade. Gentilmente, sorri e disse (imaginando mil e uma respostas improprias a sua idade): 

- A dinda não tem um namorado pra ter um bebe na barriga, Pequena, como a mamãe e o papai! 

Pensei que ela entenderia dessa vez... Então, Clarinha brincou  mais um pouco em sua banheira e eu continuava ao seu lado dando-lhe banho. Ela bateu ambas as mãos dentro da água, chacoalhando-na, e estendeu suas pequenas mãos em minha direção, em forma de concha (como se tivesse acabado de ter feito magia) e emendou: 

- Dindinha, agora você já pode ter um bebe na barriga. Toma aqui seu namorado!

Eu agradeci, fiz cara de surpresa e disse a ela que ele era lindo! Que ela tinha escolhido muito bem pra tia. Ela sorriu toda orgulhosa e disse como fim de papo: 

- Pode beijar ele, titia! 

(E quando eu digo que esses são os pequenos descuidos da vida, onde encontramos a verdadeira felicidade, com Clara e Helena minha alegria se tornam mais doces)