quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pão com mel



"Nada se assemelha a alma como a abelha. 
Esta voa de flor para flor, 
aquela de estrela para estrela.
A Abelha traz o mel, como a alma traz a luz."
Victor Hugo


Querido irmão,


Hoje, o dia todo você acompanhou o meu olhar.


Acordei e te dei bom dia. Quis ouvir o som do liquidificador alto (como você fazia na maioria das manhãs antes de ir trabalhar, pois nesses momentos sabia que era a minha hora de levantar). Então, acordei e apertei o cobertor e imaginei estar em casa e até mesmo ouvi o som de seu sorriso. Apertei o cobertor para te abraçar e sorri docemente em direção a minha flor que está posta em um jarro na janela, como se desse modo meu bom dia chegasse até você.


Na hora do almoço quis te ligar, contar para você que a nossa sobrinha está maravilhosa e que começou a comer papinha feita pela vovó e que ela ainda não se acostumou com a barba do vovô e que a nossa irmã virou a mãe mais bela e sorridente do mundo! E eu novamente ouvi sua voz em meu ouvido. Eu quis olhar para o lado e te ver, mas meus olhos me enganaram (mesmo sabendo o que minha alma sentia).


E dessa forma meu dia passou. Eu, estudando para as provas finais e querendo sua companhia. Tem dias que são assim, não é mesmo, Ju? E meus olhos por diversas vezes me traíram e desviei o pensamento (pois seu sorriso continuava ecoando em mim). E eu quis muito te abraçar e dizer que não importa o quão longe estamos (por hora), mas sei firme e docemente que você me esperará no portão da chegada com o pão recheado no mel, para adoçar todos os meus dias, como você fazia em minha infância!



Dedicado ao meu doce irmão que partiu cedo demais: Jorge Luiz 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Segredos


Os pés não paravam de se mexer, batendo ao chão, inquietos. As mãos suavam e a mente percorriam outros locais que não aquele: de uma sala de aula. Eram exatas dezenove horas e dez minutos.

Segundos? Milissegundos? Houveram, entre o suspirar e o palpitar e o olhar.

Desejou um lápis e uma folha, grama verde e pés descalços, gaivotas sobrevoando por entre o nascer e o viver.

Lembrou-se da garrafa de vinho posta à janela com uma taça apenas. Sorriu. Sentiu o vento de outono, o minuano, o mistral e desejou um afago, um suspiro longo, calmo, doce... Tantas palavras para a paz interior.

Aquietou-se.
Os pés acalmaram-se.
Eram exatas dezenove horas e dezenove minuto