segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A bagagem


Então, a mala ficou no pé da escada por uns três dias sem que soubesse o que de importante levaria e passava por cima dela, com o coração saltitante, ignorando-a e sabendo que deveria partir no domingo.

No sabádo ela fez e desfez as malas várias vezes, achando que estava levando muita roupa e ainda sabia que faltava roupa de cama e os seus livros. Vários. E tudo foi acontecendo muito rápido. Em menos de vinte dias ela havia sabido que passara no vestibular, fizera matricula, chorara de alegria, comemorara e avisara a alguém sobre a mudança. Aliás, avisara a várias pessoas, mas um alguém era especial. E ela quaria dizer a ele de uma forma clara, doce, sem reticências que o Julho seria breve e que se sua visita demorasse, ele não a veria. E foi assim que deu-se o fato: ele ligou adiando a ida para Agosto; Ela, sem pensar disse não, não estarei mais aqui, eu passei no vestibular e minhas aulas começam dia 27. Ele, mudo ficou. Tentaram conversar e deu-se o inesperado: a ligação caira. Pronto. Ela havia falado, não da forma que queria ter dito e do outro lado não se sabe como foi a expressão.

Fato é que domingo ela pos as malas no carro e se dirigiu à outra cidade longe de casa. Dormiu em outra cama, tomou banho em outro chuveiro, usou outro espelho e pensou. Pensou muito em tudo e em todos que ela tanto amava. Pediu que tudo desse certo e dormiu, com os olhos pesados. Dormiu bastante, tanto que somente acordou com o despertador do celular às sete e um da manhã.

Tomou café, se vestiu, pegou o elevador e logo estava na avenida. Ventava bastante. Cruzou os braços, olhou o céu nublado e seguiu para a faculdade. Insegura e alegre do primeiro dia como caloura. Imaginando o que faria. Detestava chegar aos lugares sem um ponto de referência e de puxar conversa com estranhos. Pensando, não tão estranhos assim, ja que muitos, se nada ocorrer, ficarão juntos por pelo menos seis anos adiante.

Era a magia do momento. Queria ser médica desde quando se lembrava de sua primeira memória. Nunca sonhou em ser bailarina, em dançar na Broadway, em ser astronauta da NASA. Queria ser uma médica da ong "Médicos Sem Fronteiras", queria ir para a África, Camboja, Timor Leste. Queria ir para onde a vida precisava de carinho, para onde pudesse ajudar. E a cada vestibular aumentava sua ansiedade. Reprovada foi em vários. Chorou. Estudou mais. Se fortificou. Pensou em como era burra por várias noites, quis desistir de sua meta, mas lá dentro nunca conseguiu abandonar seu desejo intrínseco. Então, neste Julho, de presente de aniversário veio o veredito: havia passado!

Ela agora se tornara estudante de medicina. Ela queria isso e teve a confirmação mais que absoluta quando teve a primeira aula prática de anatomia. Ela sorriu. Sorriu e lembrou das pessoas que acreditaram: lembrou do pai, da mãe, dos irmãos, do cunhado, da prima ruiva, do amigo que dizia Inron, dos amigos-irmãos da infância, do moço da praia do Frânces... Lembrou-se deles com carinho pois eles, a cada maneira, ajudaram-na a estar ali. Incentivaram, ocuparam a cabeça com ela, apoiaram e se preocuparam. Se ela tinha chegado onde queria, o primeiro passo, era de todos aqueles...

Enfim, há um mês o dia dela é diferente. Ela acorda e vai para a aula sorrindo, mesmo quando o sono ainda não foi embora. Mesmo que ela ainda não tenha encontrado tempo suficiente para conversar com quem e como gostaria. Ela pede desculpas por não poder estar respondendo os recados rápidamente e por às vezes não ouvir o telefone tocar. Tudo o que ela tem visto é novidade. Todo o sorriso é novo, porém ela, toda noite antes de dormir, sonha com cada um que ficou ao seu lado... E sente saudade. Sente falta. E promete que logo quando tudo se ajeitar, ela aparecerá mais vezes e nos horários de costume.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fomentar


Eu preciso de colo. Mas daquele que me acalentava, atiçava minha imaginação com contos e fábulas e cantava pra eu sonhar.



Só por uma noite apenas.

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E eu viajaria mais.
Muito mais.