domingo, 17 de janeiro de 2021

Fotografia


Fotografia (s.f.)

"arte ou processo de fixar a imagem ou realidade através do sensor digital ou superfície fotossensível com auxílio da luz". 

é uma extensão da minha alma. é uma casa, uma família. é um sorriso preso no instante da saudade. 






Quando escrevo, escuto seu coração bater de novo. 

Querido irmão, ontem, a procura de algo, reencontrei nossa foto... e desde então a saudade passou mais forte para o lado de cá.

Quis saber do que sorríamos quando houve esse registro. Desejei ouvir o tom da sua voz e te abraçar. Ora, pois: 


"No dia em que ocê foi embora

Eu fiquei sentindo saudades do que não foi

Lembrando até do que eu não vivi

Pensando em nós dois". 


Te amo. Sua irmã. L.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Destinatário (s.)

 Para meu irmão: Jorge Luiz Saar Armond Júnior




“ destinatário (s.)

é, nas tabelas dos correios, a pessoa que

recebe um presente, uma mensagem,

uma cobrança, ou uma surpresa. é o

alvo do remetente. é o destino de alguma coisa.

 

é, nas tabelas da minha via, a pessoa

que recebe todas as minhas declarações

de amor, os meus versos mais tortos e

minhas tentativas de surpreender. é o

alvo do meu coração. é o destino da minha vida.”

 

Querido irmão,

Fazem exatos quinze dias que meu coração detectou sinais (absurdamente fortes) de saudades. No início, eu não estava entendendo porque algo me incomodava, como se fosse uma pedrinha no fundo do sapato, que não saia. Então os dias foram passando e eu permaneci “ sufocada”. Contei os anos e me assustei: São exatos dezessete anos que envio suas cartas ao céu.

Primeiro, como de costume, xinguei, esbravejei o amor. Devo ter dito com alguma fúria (pois alguns anos são assim) sobre a falta que me faz. Depois, quando a tempestade passou, bem de mansinho, o céu se abriu, então eu sorri e chorei. Só não me lembro a ordem dos fatos, pois é sempre assim. Ano após ano, por dezessete anos.

Queria saber como foi seu dia. Se os seus olhos continuam absurdamente azuis; Se o seu sorriso continua o mais belo e o mais alvo; Se você anda de skate e se faz pipas azuis para as crianças. Queria saber quando você vem me abraçar e também como seria sua vida hoje, aqui, junto a mim. Afinal, como digo sempre: perder quem amamos é conjugar demais o futuro do pretérito.

Hoje eu não consegui te escrever um poema, nem uma história de amor. Porque este ano de 2020 tem sido “ estranho”, embora cheio de aprendizagens, tornou a saudade mais dolorida. Contudo, eu posso te dizer que continuo a usar o escapulário, que quando eu passo em frente á Igreja da Sé eu olho para a torre e sorrio (porque ouço sua voz me chamando lá de cima sorrindo); continuo a fazer “em nome do Pai” em frente ao Rosário e quando a saudade aperta muito e gostaria de sentir algo carnal, material, eu entro na loja de perfumes para sentir o que você usava.

Assim como uma vez eu li: “ não posso impedir o inverno, mas irei tentar me aquecer”. Então me despeço amarrando esta carta em nossa pipa azul com o seguinte pensamento: não posso impedir a tristeza de às vezes chegar, mas sempre irei tentar ser feliz, por nós dois.

Com amor, muito afeto e muita saudade,

Sua irmã, L. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

A saudade conjugada no futuro do pretérito



"Enquanto houver você do outro lado

Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete, a cena se inverte
Enchendo a minha alma alma daquilo que outrora eu
Deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você, só enquanto eu respirar"



Querido Juninho,

Hoje eu não sei se sorrio ou se choro. Muito provável farei ambos com a mesma intensidade; pois perder quem amamos é passar a conjugar muito mais o futuro do pretérito.

Neste momento, eu sento para te escrever como faço há dezesseis anos. São algumas cartas que envio ao céu, para que possa ser entregue ao nosso coração. No intuito de amenizar tudo que sinto (principalmente neste dia). Costumo não contar o tempo, porque dessa forma eu tento driblá-lo, esquivando-se da saudade. Mas é inútil, pois a lembrança é diária. E quanto mais o tempo passa, mas a saudade aumenta.

Hoje, te abracei e o envolvi com ternura, disse a nós dois que você continua sendo o meu anjo protetor. Sentindo sua falta, ou a sua procura, ergui os olhos ao céu e disse o tanto que te  amo, assim como te xinguei, por você não estar aqui fisicamente. Tentei ouvir sua voz e lembrei de você cantando. Vi o seu sorriso e por um momento senti o seu perfume.

Perder quem amamos machuca.  É a falta da voz, do cheiro, dos abraços, do suor. É a falta de cor, do tom, do brilho. É a  casa que fica grande demais. É a música que acaba.  E em tudo que se olha, lá está um pedaço da pessoa a qual não gostaríamos que tivesse partido.  E este pedaço a que me refiro não é material: você passa a olhar tudo com os olhos da alma. Você se pega refletindo na pessoa sem saber exatamente por qual motivo seu pensamento te traiu e chegou ali, as três da tarde de um dia comum. Às vezes doí (e muito). Outras, vem junto com a dor, a leveza e até alguma sensação de júbilo. E os sentimentos se misturam. Você abana a cabeça, como que se dessa forma fosse plenamente possível desfazer o pensamento... Mas não! Impossível, ele te segue. Com este tipo de recordação, simplesmente teremos que aprender a conviver e a algumas horas a trapaceá-la. Pois a lembrança que surge não escolhe hora nem lugar.

Amar é estar sujeito a aprender a também abrir mão. Aprender que as pessoas não são imortais, que certas partidas não duram algumas horas, um pôr do sol, um mês. Como também, mesmo que se deseje (em demasia) guardá-las por proteção, não ha como encerrá-las em lugares totalmente seguros.

Sendo assim, eu te vejo e te percebo. Meu irmão passou nesta Terra como um cometa: brilhou muito, mas em pouco tempo. E como uma vez escreveu Leonardo Da Vinci: não se volta quando a meta é a estrela. E dessa forma, nestes momentos saudosos, sei que o seu sopro de vida chega até mim.

São muitos anos pensando no seu abraço. 

Dessa forma, te beijo a testa e te digo até logo.

Com amor, sua irmã. 

L.

Dedicado a Jorge Luiz Saar Armond
26/04/1980
04/12/2003

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O dia oficial da saudade





Diga ao dia da saudade que a sua data oficial pertence ao dia 26 de abril.

Diga ao dia da saudade que hoje é o seu aniversário e que eu pensei em ti o mês inteiro. Mudo de lugar. Mudo de rua. Espalho o pensamento. Mas o mundo não muda de mim.

O amor não é sobre quem vem primeiro ou quem vem por último. É sobre quem vem e nunca vai embora.

Um pedaço do meu coração cantou esta manhã ao acordar, por saber que é o seu aniversário, Ju. Lá de dentro, a alma assobiou; Assim como, a outra metade (tão proporcional neste instante) do mesmo coração foi desassossegada. Em analogia, quase como uma ventania em dia de verão: primeiro você se torna aliviado por aquele vento ter chegado e refrescado sua tarde; mas também torna-se preocupado por o mesmo vento está a levantar poeira demais (e talvez peça, intuitivamente, para Deus, Anjos, Alá e Orixás para te proteger do que possa vir).

Hoje, pela segunda vez em seu aniversário, eu passei "sozinha". Talvez por esse motivo, na noite em que precedeu a data tive insonia - e por diversas vezes coloquei a culpa no calor ou no barulho. Modo mais fácil de pensar no motivo real de minha inquietude, única:

A Saudade.

Há alguns anos eu já sou a mais velha de nós dois. Você se tornou o meu caçula e nunca terá alguns fios de cabelo branco na têmpora (ao contrário de mim que encontrei uns dois ou três fios na fronte). Hoje, eu olhei diversas vezes para o céu e imaginei que daí você me abraça (nunca no passado, porque quando amamos, a presença espiritual torna-se muito presente). Em pensamento fiz seu bolo de aniversário e te comprei um belo presente. Também deitei ao seu lado, te acordando com um beijo no ombro, porque eu fazia isso. Em meu pensamento, entre um paciente e outro, conversamos. Eu sorri a maior parte do dia e imaginei você parado na porta me olhando como neste sorriso bonito da foto: alvo.

Hoje, como poucas vezes me aconteceu, as palavras vindas de meu coração, não foram parar na ponta de meus dedos, pararam em minha garganta de uma forma que dói e as letras insistiram em descer em formas de lágrimas. Isso tudo porque é o seu aniversário, meu amor, meu irmão.

E irmão, no dicionários dos meus sentimentos: "é o olhar na parte dos seus olhos que brilham quando você tá feliz e sente felicidade também. É saber de cor o som da sua risada de quando éramos pequenos. É ter certeza da verdade que sai da sua boca, mesmo que eu não escute som algum. É ter a sincronia de uma equipe olímpica, sem as olimpíadas. É sentir que viemos ao mundo para afastar, um do outro, o mal da solidão. É quando a cumplicidade se torna mais importante do que o sangue".

E como comecei, termino: hoje é o dia oficial do amor. E o amor não é sobre quem vem primeiro ou quem vem por último. É sobre quem vem e nunca vai embora.

E neste amor, você carrega o meu coração.

Sua irmã.

L.



Dedicado a meu irmão que me sorri do céu
Jorge Luiz (26/04/1980 - 04/12/2003)